Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres: faltou suspense mas sobrou coragem

Assim que botei o olho no cartaz de Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, lembrei de "Neuromancer" (1984), romance de William Gibson (leia a resenha). Assim como no filme, a protagonista do livro é uma garota pálida, cybercriminosa, drogada, que usa roupa de couro preto colada ao corpo e vive cercada de problemas e tragédias. Não conheço o trabalho do sueco Stieg Larsson, autor da obra que inspirou a adaptação homônima, mas posso imaginar que ele bebeu da mesma fonte cyberpunk que gerou "Matrix" (1999) e tantas outras ficções.

Mas as semelhanças param por aí. Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres na verdade pouco tem de distopia pós-apocalíptica. O longa está mais para um filme noir. A história é centrada em Mikael Bomkvist (Daniel Craig), jornalista investigativo que está enfrentando processo por calúnia e difamação. Buscando isolamento, ele aceita o convite do magnata Henrik Vanger (Christopher Plummer) para investigar o desaparecimento da sua neta, ocorrido há 36 anos. O que parecia apenas um caso de registro documental, transforma-se numa grande investigação a partir da entrada da hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara).

Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres

A história é simples e o suspense mediano. É possível presumir o final logo no início da trama. Ainda assim, gostei bastante do desenvolvimento conduzido pelo diretor David Fincher. Assim como "Seven - Os Sete Crimes Capitais" (1995) e "Clube da Luta" (1999), a estrutura psicológica dos personagens é bem mais interessante que qualquer outro jogo de suspense. O melhor exemplo nesse caso é a protagonista. Incrível o trabalho da estreante Rooney Mara, especialmente nas cenas de estupro e vingança. Sobrou coragem! Achei a cena importante para estimular o debate em torno do sistema de controle social que os governos costumam executar.

Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres tem os méritos de um bom filme. Só acho que faltou um pouco mais de ação, adrenalina. Senti falta de subtramas e mais riscos aos personagens. Tudo ficou só na ameaça. Acredito que um pouco mais de ambição poderia ter deixado a história socialmente relevante. Quem sabe uma conspiração global ou um segredo transnacional. De todo modo, é um filme divertido. Mereceu as cinco indicações ao Oscar e tem tudo para tocar a trilogia Millennium pra frente.

Ficha técnica:

Título no Brasil: Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
Título Original: The Girl with the Dragon Tattoo
Ano de Lançamento: 2011
País origem: Alemanha, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos
Direção: David Fincher
Roteiro: Steven Zaillian, baseado no livro de Stieg Larsson
Elenco: Daniel Craig, Rooney Mara, Stellan Skarsgard, Robin Wright